quinta-feira, agosto 03, 2006

Cegueira Humana

Foto:
(…) (Nada escapa ao furor do dedo pressionado, sobre o botão da guerra moderna. Nem convento, pássaro ou regato distraído confundindo por outro tipo de luz que não seja a da lua.)Pela voz perdida entre as bombas, quando o arrepio do míssil, ouvido segundos antes de atingir as maternidades, num silvo de morte até ao impacto sobre o berçário de uma esperança, desfeita pela ausência de sentimento ou qualquer lógica de sentido humano. Por essa voz anónima, nascendo no lado errado da vida, algures em qualquer local da terra, que um dia viu nascer, num sol espantado por tanta energia deitada assim, na valeta da cegueira humana. Essa voz, chamando a mãe biológica, a mãe aterrorizada, a mãe que um dia rompeu para ver o vermelho das papoilas, sobre o verde dos campos, nunca o sangue derramado nas crateras do desespero de quem não pediu este estrondo de sucção colateral. Essa voz solitária, nessa criança atónita lançada em fotografia para as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo, observada, lá longe, na postura impávida dos gabinetes de decisão, maremoto do egoísmo vincando a impotência. Pelo cerco do horror, com as mãos na cabeça. E o olhar retorcido nos ferros do impacto, mais o êxodo arrastado pela via-sacra do desespero e da revolta. Rastos de formigas esmagadas sob o uivo das botas dos soldados sem rosto. Séculos de religiões ocupando espaço, destruindo à nascença a largura do olhar para outras paragens no além infinito do fanatismo da clausura. Por todos os solitários, de todas as idades, sem culpa das bússolas das civilizações, tombando no olhar dos senhores da guerra e da energia que um dia há-de acabar. Contra todos os donos das armas que as querem vender, à porta do inferno chamando, na ilusão de serem eternos, ergamos a força de todos os elementos, a força cercando o lado errado da história da terra prometida, entre o Tigre e o Eufrates, terra queimada nas promessas, do mel transformado em fel apontado ao horror daquilo que é mais sagrado A vida…(…)
lido aqui:

Sem comentários: